domingo, 15 de fevereiro de 2015

Fábula Orwelliana * Antonio Cabral Filho - RJ

***
ANTONIO CABRAL FILHO, com o livro
ANTOLOGIA POÉTICA VOL2 UFF -
Universidade Federal Fluminense, 1996.
*
Durante a minha infância, vivi na roça. E, não sei se você sabe, mas na roça há o costume de não se construir o banheiro dentro de casa, da residência, ou seja, ergue-se um cômodo a uma certa distância da casa que é apelidado de "casinha", e aí fura-se um buraco no canto, que é onde se defeca e esvazia os pinicos ao amanhecer, tomar banho e guardar aquela roupa de trabalho a ser usada no dia seguinte.

Ocorre que as crianças, geralmente, evitam a "casinha" devido à catinga e vão cagar no mato.  Como na maioria das casas criam-se porcos soltos, eles se habituam a comer as fezes humanas, e percebem, com muita perícia, aonde tem um cagão atrás da moita, dando, logo-logo, um fim à paz do coitado, que é obrigado a sair correndo para evitar a voracidade do porco por merda.

Quando o porco se satisfaz com a titica encontrada, ótimo! Mas na maioria das vezes,  o porco quer mais merda. Nesses casos, o sujeito tem de se lavar para tirar o cheiro que o identifica para o porco.

Durante a minha vida adulta tenho observado nos ambientes que frequento, seja de trabalho ou não, que as características daqueles porcos da minha infância fazem parte da personalidade de certo tipo de pessoas. Geralmente, elas trabalham em funções de controle, chefias, segurança, administração ou são essencialmente fofoqueiras, me parecem os "Indiana Jones da Bosta Perdida!" etc. E percebo, até com certa tristeza, que uma das características marcantes do ser humano, é fazer merda.
De modo que quando noto alguém em vias de cometer um "deslize" que vai provocar a gana, a "repressão" dos digamos assim "superiores", eu me apresso em abordá-lo e expor-lhe esses fatos lá da minha infância, no intuito de alertá-los para a sanha dos porcos e até já criei um lema:

NÃO DÊ MOLE PARA OS PORCOS
PORQUE ELES ADORAM MERDA!
***

Nenhum comentário:

Postar um comentário